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MENTES QUE BRILHAM

Wallace da Costa Brito*


A personagem principal de Mentes que brilham é Fred Tate (Adam Hann-Byrd), menino cuja inteligência notável o torna uma criança “diferente” das demais, embora, como o próprio drama demonstra, não seja exatamente assim. O filme começa com seu nascimento. Desde muito cedo, Fred começou a apresentar características intelectuais diferentes do comum. Quando na escola, destacava-se dos demais alunos, muitos o consideravam um estranho. Em família, vive somente com sua mãe, Dede (Jodie Foster). Quanto ao pai, em nenhum momento se fala. Separou-se da mãe e não quis saber do menino? Ou havia morrido? O filme não responde e nos deixa com esta pergunta sem resposta.

Fred vive em um pequeno apartamento com a mãe. Filho único, não mantinha convívio cotidiano com as demais crianças, pois, mesmo tentando se aproximar, estas eram desinteressadas e até mesmo indiferentes a ele, excluindo-o das brincadeiras. O menino lia diariamente e se interessava por temas não frequentes para sua tenra idade.

Com apenas sete anos, escreve poesias, pinta a óleo, toca piano. Sua inteligência incomum desperta o interesse da Escola Gierson, cuja diretora, Jane (Diane Wiest) deseja conhecê-lo e o chama, junto com sua mãe, para uma entrevista. Os dois vão à escola, onde o menino é convidado a participar da olimpíada mental “odisseia da mente”. Sua mãe, porém, recusa o convite. Ocorre uma hostilidade inicial entre Dede e a diretora.

Passado um tempo, a mãe volta atrás e permite que o menino seja inscrito na olimpíada. Ele viaja com o grupo escolar por duas semanas. Passa esta temporada em convivência com Jane em sua fazenda, acompanhado de outros meninos. A professora, por sua vez, é profundamente afetada na convivência com o menino, pois sua própria história é revista, passando a repensar a si mesma e, por conseguinte, no modo de vida que arranjou para si, também isolada, sem amigos, praticamente sem contatos etc. O desempenho de Fred na odisseia da mente é extraordinário, ao término da qual retorna para casa.

Jane visita sua casa e, em conversa com Dede, diz que pretende escrever um livro sobre Fred e sua história. Para isso, pede permissão para estar com o garoto durante algum tempo na universidade, na qual dará um curso de verão. As duas, porém, se desentendem; Dede tem outros planos em relação a trabalho. Contudo, após este episódio, volta atrás e concorda que seu filho passe a temporada em companhia de Jane, na universidade. Apesar do consentimento, Dede nutre grande antipatia pela professora. Ao despedir-se do filho, o diz que ele é o que de melhor lhe aconteceu. A mãe viaja para Orlando a trabalho. Este episódio faz com que ela e o filho fiquem muito afastados. A solidão do menino aumenta; a mãe, ao longo da temporada, sente muito, pois seus contatos se resumem, esporadicamente, ao telefone. Em um programa de TV para o qual foi levado por Jane, Fred, muito chateado, perguntado sobre sua mãe, diz que não tem, “ela morreu!”. Dede assiste e, perplexa, fica mal. Experimentando tamanha solidão, Fred tenta ter algum amigo, mesmo bem mais velho, um estudante da universidade. Este o acolhe bem; é atencioso; os dois passam uma tarde juntos. Mais tarde, porém, o jovem recusa manter vínculo próximo com o menino devido à grande diferença de idade.

Terminado este período de estudos, o garoto volta sozinho a casa. Sua mãe chega pouco depois e o encontra. Arrependida, pede desculpas por tê-lo deixado só. Mãe e filho, reciprocamente, se dizem amar.

O drama termina com a festa de aniversário de oito anos de Fred, em sua casa. Além de Jane, que finalmente se entende com Dede, várias crianças estão presentes. A comemoração é divertida e animada. Assim termina o filme, o menino está bem, está contente e vivendo alegremente seu aniversário.

O filme demonstra que Fred é uma criança tímida e solitária, afastada do convívio social, em parte, pela proteção exagerada da mãe. Por outro lado, mantém grande sede de relacionamentos e de viver como as outras crianças. Tenta enturmar-se, inicialmente, sem êxito. Assim, se apresenta este encantador menino que, um tanto quanto hesitante, mas espontâneo, tenta fazer amigos e firmar seu lugar entre a mãe e a nova professora, admiradora de sua grande e precoce capacidade intelectual. Apesar de seu enorme potencial e de nutrir grande interesse pelo conhecimento, deseja, igualmente, viver a plenitude de sua idade, isto é, ser apenas uma criança. Algo do qual sentia falta, pois vivia alguma coisa fora de seu tempo, com exigências e expectativas (de outros) que ainda não eram adequadas para ele. Assim, pode-se observar que cognição e afetividade são aspectos intrínsecos da construção do sujeito e, por isso mesmo, o trabalho educativo deve atentar-se para isso, como bem recomendam Davis e Oliveira (1994, p. 83-84):

"As emoções estão presentes quando se busca conhecer, quando se estabelece relações com objetos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis. Presentes em qualquer atividade, embora em proporções variáveis. A afetividade e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações do indivíduo. O afeto pode, assim, ser entendido como a energia necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar. E mais: ele influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade".


 

Referências:

DAVIS, Claudia; DE OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Psicologia na educação. 2. ed. revisada. São Paulo: Cortez, 1994.

MENTES que brilham. Direção: Jodie Foster. Produção: Peggy Rajski; Randy Stone; Scott Rudin. Intérpretes: Jodie Foster, Dianne Wiest, Adam Hann-Byrd, Harry Connick Jr., David Hyde Pierce, Debi Mazar, P. J. Ochlan, Alex Lee e outros. Roteiro: Scott Frank. Trilha sonora: Mark Isham. Los Angeles, EUA: Orion Pictures, c 1991. 1 DVD (99 min), widescreen, color.


 

*Wallace da Costa Brito é psicólogo, mestre em Psicologia (UFRRJ) e professor da UNIGRANRIO.


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